domingo, 14 de outubro de 2012

O Peru foi uma viagem tão linda, tão linda que voltei zerada. Sem nada pra pensar ou desejar, adoeci. Fiquei de cama, gripada, sem querer comer ou beber nada. Sozinha ali, com meu sentimento de plenitude e pacificação há muito sem sentir. Em silencio pude ficar totalmente conectada a fonte que toquei, aos banhos de cachoeira dentro da selva peruana que tomei. Aos sons da mata, ao brilho da lua e  a luxuruosa simplicidade da mata convidativa.
Posso dizer que toquei o som do silencio, aquele que havia lido no maravilhoso livro "Milarepa- o Xamã do Tibet" pude entrar no fio invisível do silencio e ver meu corpo se fragmentar, milhões de células dançando, coloridas se mesclando e desmesclando. O som as fazia unir ou separar. E tudo era incrivelmente sensual, deliciosamente apaixonante. Mente livre com asas, sem nada, sem perguntar nada, sem querer nada, NADA. Como querer novamente desejar? Como me persuadir a me unir aos traços de desejos que me fazem viver nessa terra? Renascendo, sendo matéria viva, renovando meus votos de viver e aqui seguir. Nossa, que exercício poderoso de rendição e ternura. Aos pés e nos braços do meu amado me voltei a mim e sorri. Vivi, desejei.

Zonas de Conforto ou Alienação?

Dia 27 próximo me reunirei mais uma vez com mulheres pra falarmos de nós, fazermos artesanatos e dialogarmos sobre nosso cotidiano. Em seguida , nesse mesmo dia farei o rito de wachuma. Dia de intenso trabalho, de profunda ternura e simplicidade. Penso em nossas buscas, caminhadas profundas, desejos tão viscerais, calados, escondidos, chorados em cantos solitários. Nossas mentes impulsionadas por nossos próprios conceitos sendo obrigadas a decodificar pensamentos que vindos de não sei onde chegam atravessando, rasgando, mostrando, denunciando. O corpo ferido e mascarado de alegria, o coração queimando e mascarado de desapego, de uma insana compreensão. E esse feminino ardente, que não tem coragem de se expor. Porque dói, porque não quer mostrar a ambição guardada, a sexualidade explosiva, a agressividade aprisionada. Então morre e mata. Inexplicavelmente se vai, se torra e se maldiz. Mas sorri, porque diz ser forte, mas abre os olhos e insiste em cantar.